terça-feira, 20 de janeiro de 2009

O café já chegou à mesa mais gelado que a minha chávena


O café já chegou à mesa mais gelado que a minha chávena. A minha.
Abre moeda tira carteira. Fecha mala abre o passo. Um caminho de independência fingida.
A chávena mais fria que eu. O café mais frio que a chávena. A minha.
Acendo no fumo o desejo em cinza. Este batôn a um só hálito fala silêncios. Esta energia tão trocada.

Se ao menos pudesse.

Fecho os olhos e desisto. Compassos ternários tocam triste o três que Deus não fez.
Toquei no cão branco e sorri. Ele nem sentiu.

Se ao menos pudesse.
O café mais frio que a chávena. A minha.

In medias res deste contratempo acabado no sopro.
Independente e sozinha. Se eles soubessem como respondem as paredes de olhar mexeriqueiro. Se eles soubessem como atrás das olheiras não há nada. Se eles soubessem como rasgo-me em papel fumado sem tapar-me em chama. Cheira mas não trama. A cama. Água morta de seca viva.

A minha.

Se eles soubessem não perguntavam. Se soubessem não falavam. Se eles soubessem. Estavam. Como é bom estar sem dizer nada. Não estar no nada. Acompanhada.

O café chegou à mesa mais gelado que a minha chávena. A minha.
Se ao menos pudesse.
Se eles soubessem.
No palco uma mão firme ao ombro. Se eles soubessem como o instante é o aconchego que a musica já não trás. Se eles soubessem como fica outra mão na minha. Se eles soubessem como um abraço é braço em mim apreço berço braço baço.

Se eles soubessem.
Se ao menos eu pudesse.

Se ao menos eu pudesse ter tido o meu café quente em chávena fria.
E se eles soubessem…

1 comentário:

Bárbara disse...

Se eles soubesses pelo menos... foi uma maladade! Gostei muito primaça*