sexta-feira, 24 de outubro de 2008

muda musa


Lembranças de um beijo assombram-me a espera incessante do abismo.
Lembranças de um abraço cegam-me a escuridão interdita do amor.
Uma palavra perdura no silêncio da memória.
Quanto mais espero. Menos aguento a partida. Quanto mais penso. Mais sei e menos faço.
As coisas boas são tão efémeras como o teatro. Recordá-las é uma força maior de as querer reviver. Recordá-las é matar a força da efemeridade agarrada à lembrança condicionada de uma distância.
De que servem fantasmas se as portas estão abertas?
De que serve regressar se não está lá ninguém?
De que serve ter alguma coisa para não esquecer?
Deito-me na almofada das noites brancas encostada à escuridão clandestina do estrume sentimental.
Nunca uma companhia toca sem pedir, um telefone chama. Não vou esperar pelo Restelo nem ficar velha nas rugas da história que fantasiei.
Abro a janela choro Outono de canções gastas num café em chávena fria, frio por não estares.
Arrefecem-se-me as mãos quentes de suor cúmplice.
Deixo falar aquela voz do Oceano Pacifico como se lá estivesse tudo o que ainda tinha por te dizer… não mudo.

Fiquei muda.

De gatas corro a 125 azul.

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