quinta-feira, 1 de maio de 2008

anatomia. sete loiras de espuma branca.


Despertar.
Encontro de vozes na anatomia simplificada do mundo que ficou. Guardado. Aperto as mãos roçadas de uma saudade intrínseca, queimada de sol distante e salgada da magia capilar de um sopro escondido. Redescoberto. Aberto. Abro. Fecho os olhos e trinco areias espanholas numa dança inglesa em ritmos “calientes” da Dinamarca a Portugal. Peguei no mapa da ilha cruzada e nadei em ventos parados de sol-posto. Um copo de espuma branca e licor de língua vermelha. A celha. Escorrego saltos vertiginosos de chegada partida. Que partida e eu tão seca de sede vivida. É pouco. Tão pouco como o insistente orgasmo de cheiro contido. Soltar a anca numa dança sem salsa. Pimenta e erva-doce. Sorriso. Meloa fresca. Quente.
Acordei.
Levantei-me da noite mais longa de sonho vivido na viagem mais próxima de viagem percorrida.
Escuro. Sombrio. Amarelo sol de girassol e braço queimado.
Aguento.
Contida. Pragmatismo de invulgar partida. Escondo os olhos da madrugada nos óculos refugiados de cor da noite.
Despedidas. Tão vestidas de despidas.
Regresso.
Agarro a chávena de café com o passaporte de uma chegada pouco tardia e de uma necessidade feroz de trocar a tequilha por Lisboa. Boa.
Não há lágrima. Já nada é triste. Não há dor. Já tudo resiste. Não há alegria. Não há alegria no regresso acordado. Só a saudade não se refere a si mesma por esgotar-se na continuidade de existir. E de não fazer vir.
Gomos de laranja à boca da praia e sumo de sol-posto.
Abraço.
Sorri.
Caminha.
Pega na mala e foge.
Foge para a certeza de que só fugimos quando estamos escondidos. E era só uma obrigação de nada.
Perguntas e nada a dizer.
Enterro os olhos no suor de uma viagem que ficou onde está. Cá já nada existe. Se existisse não precisava de viagens para voltar. Não teria nada mais além de mim.
Trinco os lábios e tranco o sabor. Aqui ninguém entra. Na boca da verdade e no cabo das tormentas. Na saliva “adamastora” da ressaca de uma gargalhada.
Volto à cama longe de hotel. Abraço almofada, espero escondida o despertador da próxima partida.
Em segredo. Quando todos vão dormir é mais fácil resistir.
Neste aeroporto viajo.
Neste avião sem pânico chego.
Hoje apenas vejo.
Nada toca.
Hoje apenas escrevo.
Hoje.
Lisboa, 1 de Maio.

2 comentários:

Delirium Cordia disse...

Sonhamos o Sonho, certo?

Tu ja o recordas... :)
*

Delirium Cordia disse...

Sorrisos e palavras caladas*