domingo, 13 de abril de 2008

não consigo

Não consigo. Não quero. Não posso imaginar o que estou a fazer. Tanto tempo a evitar. Tanto tempo a ignorar. E agora ouço gritos dentro de mim que não quero ouvir. E gritam mais alto, e mais alto, e mais alto que não consigo já negar. Que nem consigo dizer. Tenho frio. Tenho sede. Tenho fome. Tenho vergonha de chorar porque descobri. Tenho vergonha de chorar porque não consigo falar ainda mais alto. A minha voz é vazia neste tanto. Escorrego os lábios. Um no outro e a língua já seca, como tudo, à procura de mim. Só tenho restos mortais de um beijo que se foi. E de tantos que se foram. E de mais ainda. Que foram. Não sei para onde. Não sei por onde. Não sei por quem. Só sei que não voltam aqui. O que me resta são restos de cinzas e vegetais e só porque o vento já se esqueceu de passar também por aqui. Aqui. Ali. Este. Aqui este. Este ali. Aqui este vulto. Ali aquele corpo. Tenho as mãos cor de primavera morta. Brancas de morte. Para lá do que o calor das tuas fez crescer em mim. Já não. Só marcas de ossos salientes e unhas arranjadas para nada. Para ninguém. Abraço as mãos. Uma na outra. A pele seca. Para ter a ilusão de que não caminho só. A pedra. A pedra que foi vida quando as tuas lágrimas e as minhas faziam mar. O mar. A noite. Nos. O nosso mar. Na hora que o (a)deus falou. Na hora que o mar, a pedra, o céu ouviram em segredo que o nosso amor estava nas `aguas daquele sal. Guardadas numa eternidade. Agora acabadas. Ou lucidamente enterradas. (des) enterradas. As `aguas do tempo das fadas. Suspiro. Suspiro. Suspiro. Suspiro. Suspiro. Suspiro. Suspiro. Suspiro. Suspiro. Suspiro. Suspiro. Suspiro. Suspiro. Suspiro. Mas não sai. Suspiro. Suspiro. Suspiro. Suspiro. Suspiro. Suspiro. Suspiro. Esta dor. Que derrotadamente diz que eu existo. Suspiro. Cobardia feroz de querer ser o que não sou. Nem o que tu és. Nem o que queres. Nem o que quero. Nem o que fui. Nem qualquer coisa de intermédio. Já sei! CALEM-SE!!!! Vozes surdas que falam quando o tempo já passou. Quando já não há ouvido para as ouvir. Bocas para as falar. Corpo para as sentir. Basta. Simplesmente basta! Porque não quero. Porque não posso. Porque já não sei. Amar. Os teus olhos não podem mais olhar para mim porque os meus perderam a força de os ver. Basta de fantasmas e histórias de filmes e crianças. Basta. Já. Não quero os sinais que pedi. Já. Não quero este impulso para te dizer tudo sem medo. Basta. Agora estou no vazio que nasceu entre o sentir e o pensar. Basta. Não dá. Mais. Não quero saber se me queres. Não quero ouvir um não antes disfarçado. Agora certo. Parem. Parem. Parem. Parem. Parem. Parem. Parem. Já disse. Parem. Parem. Parem. Parem. Não aguento. Os gritos. As vozes. Os gritos. A palavra. O adeus. Os gritos. As vozes. O adeus. A palavra. As vozes. O grito. O adeus. A palavra. A palavra. A palavra. O adeus. A palavra. O adeus. Os gritos. As vozes. O adeus. Basta. O tempo já não passa mais. Só restam os restos. A morte. Do tempo. De ti. Já tinha enterrado o mar. Porque voltaste? Não quero. Não quero juras fora de validade. Basta. A palavra. Os gritos. Tu. Tu. Tu. Tu. Sempre. Não. Nunca. Tu. Que fracasso. Que besta de resto de esquecido te transformaste. Não és o que querem. Não és nada. Nem tão pouco coisa nenhuma. Nada. Já não tens vida dentro da tua. Nem vida para dar. Pronto chega. Eu páro. Não. Não consigo. São elas. As vozes. Os gritos. Os gritos. Não. Não tenho forca de combate. Não tenho força. Os gritos. Mas. O adeus. Mas. As vozes. Mas eu só queria que soubesses o que eu não queria saber. Os gritos. Os gritos. Os gritos. As vozes. Os gritos. As vozes. Mas só queria que mesmo assim. A palavra. Os gritos. A palavra. Fosses feliz. Os gritos. Os gritos. Os gritos. Os gritos. Os gritos. As vozes. Os gritos. O adeus. A palavra. Os gritos. As vozes. A palavra. A palavra. O adeus. Chega. Chega. Chega. Basta. Já não tenho voz. Já não sou capaz. As vozes. Os gritos. Os gritos. As vozes. A palavra. A palavra. A palavra. A palavra. O adeus. A palavra. Os gritos. As vozes. AI!!! Eu digo. A palavra. Os gritos. As vozes. Desculpa. A palavra. Não tenho força. A palavra. Os gritos. As vozes. AI!!! Pronto. amo-te.

1 comentário:

Anónimo disse...

Epah!

Faz lembrar o meu Delirium Cordia, monolgo monologo! ahhh o Delirium é o mais obvio e certo destas coisas que acabam com 'Amo-te' ou simplesmente 'Amor' ahaha ves tu precebes, eu tambem ! Claro que nao ninguem precebe, nem eu, nem tu... ninguem.. é tao estupido e tao engraçado... *