quarta-feira, 9 de abril de 2008

fora de validade

Se fosse.
Se fosse alguma coisa seria um beijo. Sentir mais uma vez o teu sabor. E conter. A densidade do encosto ou redimir me ao antigo apagado agora pelo quase -perfeito.
Se fosse um corpo seria o meu quando ainda tocavas.
Se fosse alguém seria eu mesma quando ainda te interessava.
Se fosse um sorriso teria o que gostaste quando me viste.
Se fosse uma comida seria a que fazia e gostavas.
Se fosse um olhar seria o meu para te ver.
Se fosse uma atitude seria odiar-te. À nossa maneira como tu também o fazias.
Se fosse uma raridade seria a nossa pouca convencionalidade.
Se fosse um carácter seria o teu. Saberia escolher a noite andar em frente e não sentir mais necessidade de voltar atrás.
Se fosse uma simplicidade seria a tua quando eu complicava.
Se fosse um cigarro seria apenas o que tu fumas.
Se fosse uma mulher seria eu quando tu querias.
Se fosse um caminho seria o que estávamos de mãos dadas.
Se fosse uma lamechice seria outra qualquer que não a que estou agora nem a que não existia.
Se fosse uma hora seria a de te ter.
Se fosse um sonho seria o que não sonhei.
Se fosse uma partida seria a que me esperavas.
Se fosse um local era aquele onde fugimos tantas vezes para te guardar mais ainda.
Se fosse um doce era uma goma ácida para comeres incessantemente sem perder interesse.
Se fosse uma bebida era imperial para não te fartares.
Se fosse uma língua era o “carolines” para te rires.
Se fosse um número era o meu quando me ligavas.
Se fosse uma hora era instante interminável que te tinha.
Se fosse sol era o que apanhei contigo.
Se fosse uma mulher era eu mesma quando te tinha.
Se fosse um desejo era o de me quereres de novo.
Se fosse uma vitória estaria longe da porta à tua espera.
Se fosse um sentimento, bem se fosse um sentimento era certamente qualquer coisa que não esperança. Saudade. Amor. Mariquice.
Se fosse nada era o que seria agora.
Se fosse um som era aquele que tocavas e eu cantava…
Se fosse o que quer que fosse estaria em todo lado menos a falar para quem já não existe. Quem existe e deixou de me fazer existir.
“Ela” tinha razão… “vai-te foder Deus por me fazeres amar uma pessoa que não existe”.
Cada sonho, cada loucura, cada orgasmo vitorioso, cada salto transpirante tem hora de acabar. E tudo acabou.

2 comentários:

Mar de Bem disse...

Quase 40 anos nos separam, mas as tuas palavras nos unem. Que não sejas mulher sempre sofrida, como eu. Acho que é destino de artista...ser inconformadamente infeliz, perseguindo a perfeição...

Sê feliz!!!

Anónimo disse...

ahah quem diria.
Opa, ainda estou a aprender a viver, um jovem na flor da idade, um puto, ao contrario de ti, que nao muito mais velha mas Alguem ja, eu ainda agora comecei... Anyway, identifiquei.me com palavras tuas nesses teus textos.. nao sei porque ou mesmo quais, talvez pelo Signo ou pela profissao, mesmo pelo Sonho...mas gostei do que li.
Beijo Colega*

(sim, foi o meu primeiro beijo em cena)