domingo, 20 de abril de 2008

eu vou

Amanhã vou.
Anos a pensar, idealizar, acreditar que ia. Ficava. Cuspi o dedo na revista para virar imagens que me faziam viajar a qualquer parte estrangeira deste mundo de mesma rota.
A este instante, mala feita, passagem na mão. Vou?
A sensação de anos líricos permanece na marcação de um apenas ir.
É tudo tão simples. Tão explicável. Eu complico como aliás sempre a cores íntimas. Mais fácil o abraço à dor de horas, ao sorriso perdido que ao embalo da alegria quase inacreditável.
Só por isso, inacreditável. Inspiro fundo e digo alto no silêncio deste quarto humano “Carolina, vais e não compliques”. Á suspeita trágica choro prantos antes de o ser, e agora ganho uma apatia de mestre e contra-regra. Mas não é para ser do contra, juro. Eu só vou de avião ao estrangeiro. Vinte e três anos a sentar-me na Sata dos céus, contando os minutos e decorando sequências. Hoje ganho esta reacção de criança que nunca viu a lua do outro lado e não sei reagir. Parece que furamos as nuvens numa companhia que até então nunca houvera visto e é ela que me leva. E eu vou. Leva-me à primeira. Nunca pensei tantas vezes ter primeiras com esta idade de pseudo adulta com fricções adolescentes.
Não complica. Faz check-in. Entrega a mala. Deixa revistarem-te e olharem-te como terrorista de terra prometida. Espera. Passa cartão. Encontra lugar. Entra em pânico. Voa. Chega. Chegas-te e já foste. Sim, fácil não?
Mas nunca fui. Difícil? Tão excitante como a versão de um primeiro beijo nunca dado.
Atenção, vinte e três anos apesar no corpo que tende de mulher, já não há espaço para as dúvidas que nem um miúdo de sete anos tem. Consegues entender a sensação de cheirar um mundo fora do teu país? Talvez. Eu não.
Por isso ainda sou criança ou um feto de estrangeira. A língua. Mapa na mão e mochila às costas… não esquecer a Nikon de todos momentos. Além de fazer parte só assim terás a certeza que estiveste acordada no sonho da carochinha.
Eu crente de que nada tinha a dizer. E não tenho de facto. Mas… mas este vibrar de partida. Ai que não gosto. Nunca gostei de partir, nem dos sítios que não gosto de estar.
A eterna masoquista. Dizem pragmáticos de vidas viajadas e conhecedores de causa da existência de um mundo para além do que vejo na internet.
Apenas por isso. Porque daqui a instantes estarei a contrabandear um estado de segurança estrangeira com estilo de auto-confiante quando no fundo vivo no medo de acordar e achar que não fui ao estrangeiro. Sim porque esse estrangeiro na minha cabeça é já qualquer parte que não aqui. E eu nunca estive. Eu nunca fui um não aqui.
Mas diz o poeta que o importante não é chegar mas partir. Ele deve saber mais que eu. Vou acreditar nisso. Por isso eu vou.
Amanha Palma de Maiorca. Um não lugar com aeroporto. Isso basta para já se tornar incógnita em metamorfose.
Mas não complico. A mala olha-me atravessado e uma qualquer responsabilidade faz-me parar de escrever vazio.
Então vou.
Boa viagem a quem vem ou a quem fica. Sempre fiquei e sempre viajei.
Boa viagem!

2 comentários:

Anónimo disse...

Vais para o Rock in rio? ehehe

Mar de Bem disse...

Sabes, Carolina, ainda há tantos "não lugares" que pensas lá ir um dia, mas não passarão de quimeras. Não te importes. Vai com o vento... e volta com o vento.
Volta-se, p'ra onde? Aonde se chega? Partir, donde? Não há lugar de pertença. Há apenas lugares de pernoita... Será?
Caminha sempre. Nunca pares. Até porque os sítios tem o condão de nos cativar, de nos "caçar", de nos aprisionar. Não lhes podes escapar. Deixa a VIDA correr e ficarás extasiada com as "esquinas" que ela te enviar. Apenas fica ATENTA...
Beijinhos p'ra ti, que não conheço...mas que me comoves!
MAR_garida