quarta-feira, 22 de abril de 2009

espirro metropolitanico

se fosse tão rápido o fim como o suspiro.
a morte lenta do desamor escondido em estória eterna de lágrimas e abraços.
quinhentos euros. quinhentos e cinquenta euros. mil e tal euros em recibo verde. mudanças de cinco anos em três dias. médicos e doenças inadiavelmente adiadas. passes trocados e metros perdidos. reuniões e textos a decorar.
paz na almofada encostada ao olho disperto.
suspiro. tão rápido
como o fim
e a morte,
esta, demorada em mim.
19.37.

(des)pedida de onde vim despida.

Basta o peso. Basta o cansaço e não pensar em mais nada.
A expectativa. O medo. A viagem. E a chegada à viagem.
Tão perto é estar nos braços que não estão.
Receio da porta não tocar.
... e podia mais um dia guardar-me nas ondas salgadas do sozinho Abril.
Mas a porta podia tocar.
Não vai tocar.
Recomeço.
Não há tempo.

ticket

17.27 - Embarque imediato para Ponta Delgada.

Perspectiva de cancelamento - Ventos fortes. Chuva quando em vez.

Desespero.
Vou indo
17.28

choveiro de nua alma

Encostei a pestana humida e contive o bombardeio do soluçar silêncioso.
Nua na água quente.
E corriam-me os abraços daquele molho quando me senti objecto no ninho da forma e da nota alta.
Tantas vezes quis ter-te perto por te ter ausente. Hoje quero-te porque estás tão perto.
2h mais perto que um passo.
E agora a musica. No tempo.
Tão bom o abraço. O beijo. A teia. Até despedir foi bom.
porque foi.
Mas preciso. agora. de Ti.
Não perguntes nem julgues.
Abraça-me neste silencio noite e agarra-me do pânico desta lua.
Posso não te ver mais. Não saber mais.
Mas hoje eras palavra e discurso. És tu segredo em força.
Preciso.
Ai esta coisa de pensar que ouves enquanto escrevo.
Mesmo que não saibas basta-me dizer-te. É a forma impressionista de julgar que estás.
stop right know
and sleep well
a litle bitle.
um canto é segredo.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

second life

Entrei no bar em que a mulher se despiu e chorou. Entrei no bar onde agendei corpos teatrais. Entrei no bar onde o café foi mais caro que o silencio. Entrei no bar onde a luz era de mais para a escuridão onde me apetecia segredar.
Mas entrei novamente no bar.
“Já estamos fechados.” Disse o empregado, que não me trouxe o café caro em chávena fria. Aquele mais caro que o silencio. Respondi convicta “eu sei” determinada e pouco importada com a opinião dele a meu respeito. Dirigi me ao sofá cor de batôn de prostituta. Rondei a mesa e pus os olhos no chão ao estilo de Mr. Johns. Continuei, sem suportar a preocupação dos homens de colete basáltico e semi simpático. Insisti durante o tempo da minha paciência e larguei passos. Dali para fora.
O brinco não apareceu. Mais um, pensei.
Encostei-me à porta do carro ouvindo RFM pelo esconderijo de um vidro. Deixei-me bater pelo pouco vento que a noite ainda aguentava.
Sentei-me no carro. Remoendo o corroído. No carro um pouco mais escurecido que o sofá cor de batôn de prostituta.
Instalei-me. E sorri. Era a única maneira de não responder.
Mexi no cabelo. Falei da franja. Peguei nas chaves. Respirei fundo e não chorei.
Era a única maneira de esconder as gotas salgadas da cara maquilhada.
Saí novamente pela porta oposta à do cavalo. E pensei sem medo que aquele segundo era apenas meu. De aproveitar.
Cheguei ao nº 5. As chaves diziam-me que era o meu. Voltei a por os olhos no chão ao estilo de Mr. Johns como se nada mais houvesse a dizer.
Estava lá. Intacto. O brinco.
Mas o pior foi chegar ao computador e o tal programa falar por mim: Firmites, disponível. Naquele momento não me apetecia que escolhessem. Como naquele momento não me apetecia saber que não havia ninguém a esta hora igualmente disponível. Não me dei ao trabalho de mudar o estado. Porque na realidade apeteceu-me enganar a tecnologia. Preferi achar que não estava para ninguém quando se julga comunicar por alguém.
Respirei. Sorri e escrevi.
That´s enought.

segunda-feira, 30 de março de 2009

agapito

Não sei se acredite. Se invente. Se continue.
Quantas vezes a loucura parece uma constante história de madrugadas eternas. Não passa de um sopro que já foi.
Não sei se acredite. Não sei mesmo se invente. Pior, não sei se sei continuar assim meio contra mim meio a fugir de mim. Meia em ti.
Quantas vezes dei por mim a abraçar a utopia de te ter nos lábios. Quantas vezes sorri e disse “está tudo bem” só para não ter de responder a perguntas que nem eu… nem eu sei se tenho espaço para as ter. Quantas vezes guardei o teu cheiro na almofada para não sentir que isto chamado de dois é apenas um a pensar. Quantas vezes suguei o impulso de te chamar. Quantas vezes obriguei-me a lidar com frieza comigo. Quantas vezes fiz de tudo para que não percebesses que és tu. Quantas vezes não tive coragem de te dizer que sim casava contigo já. Quantas vezes senti que sentia por dois o que é a dois. Quantas vezes desliguei o telefone de lágrimas e chorei calada a facada da ausência para que ninguém percebesse que me sinto sozinha. Quantas vezes chamei-te estúpido, cabrão, mandei-te à merda e odiei-te só para suportar a dependência de um beijo teu. Quantas vezes adormeci o abismo acreditando que amanhã seria melhor. Quantas vezes achei que era a paranóica, a problemática, a culpada por não te lembrares… de me dizer olá. Quantas vezes exercitei energias para que não chegassem a ti o peso que me tens quando não estás. Quantas vezes? Quantas?
É preciso? Por quanto tempo?
Quantas vezes mais são precisas para não precisar mais de vez alguma até sentir-te apenas. Como a loucura da história das madrugadas eternas.
Não desgaste o silêncio por tanto tempo. Uma história de silêncio tem pouco que contar.
Se não tens coragem de o fazer diz-me. Eu faço por ti. Mas não me faças passar. Mais quantas vezes…
Conto as vezes que o telefone tocou sem ser por resposta. Quantas vezes fui desejada do nada. Quantas vezes disseste-me que querias estar comigo. Não preciso disso sempre. Não preciso a toda a hora.
Uma só vez bastava para alongar esta caminhada de histórias singulares. Só uma vez acreditava para pelo menos a ilusão de que um dia é sempre. Ter.
Pelo menos não fujas de ti. É a única maneira de saber se o meu lugar é aqui.
Não sei se acredite. Não sei se invente. Não sei se continue.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

O café já chegou à mesa mais gelado que a minha chávena


O café já chegou à mesa mais gelado que a minha chávena. A minha.
Abre moeda tira carteira. Fecha mala abre o passo. Um caminho de independência fingida.
A chávena mais fria que eu. O café mais frio que a chávena. A minha.
Acendo no fumo o desejo em cinza. Este batôn a um só hálito fala silêncios. Esta energia tão trocada.

Se ao menos pudesse.

Fecho os olhos e desisto. Compassos ternários tocam triste o três que Deus não fez.
Toquei no cão branco e sorri. Ele nem sentiu.

Se ao menos pudesse.
O café mais frio que a chávena. A minha.

In medias res deste contratempo acabado no sopro.
Independente e sozinha. Se eles soubessem como respondem as paredes de olhar mexeriqueiro. Se eles soubessem como atrás das olheiras não há nada. Se eles soubessem como rasgo-me em papel fumado sem tapar-me em chama. Cheira mas não trama. A cama. Água morta de seca viva.

A minha.

Se eles soubessem não perguntavam. Se soubessem não falavam. Se eles soubessem. Estavam. Como é bom estar sem dizer nada. Não estar no nada. Acompanhada.

O café chegou à mesa mais gelado que a minha chávena. A minha.
Se ao menos pudesse.
Se eles soubessem.
No palco uma mão firme ao ombro. Se eles soubessem como o instante é o aconchego que a musica já não trás. Se eles soubessem como fica outra mão na minha. Se eles soubessem como um abraço é braço em mim apreço berço braço baço.

Se eles soubessem.
Se ao menos eu pudesse.

Se ao menos eu pudesse ter tido o meu café quente em chávena fria.
E se eles soubessem…